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A simplicidade do Reino de Deus: Pequeno, singelo e paciente Nossa Senhora Aparecida

O REINO DE DEUS

O evangelista Mateus destaca em sua narrativa evangélica alguns temas centrais, dentre eles, dá especial atenção ao tema do Reino de Deus, sendo o ponto que unifica todo o evangelho. Para aproximar essa realidade do Reino de Deus dos homens, Jesus utiliza de uma forma simples de expor, usando as parábolas, mas que ainda gera incompreensões para aqueles que o escutam. Poderíamos definir a forma de Jesus tratar desses mistérios como pedagógica, utilizando elementos da realidade: trigo, semente, fermento, para fazê-los compreender algo que passa despercebido: o Reino de Deus acontece de forma singela, pequena e paciente na história da humanidade. Esses atributos confundem a lógica humana, que espera grandeza, extravagância e alarde. É na pequenez que o Reino vai acontecendo; é na sutileza que o Reino vai aparecendo; é na paciência que o Reino cresce e se alastra por toda a humanidade.

O GRÃO DE MOSTARDA, O FERMENTO NA MASSA E O JOIO NO TRIGO

Primeiramente recordemos a centralidade da liturgia deste 16° domingo do Tempo Comum: o Reino de Deus. Em torno deste grande mistério, Jesus, como dito acima, usando uma bela pedagogia, exemplifica o que é o Reino de Deus, desconstruindo uma visão perfeccionista e excludente, predominante na época. Primeira bela característica do Reino de Deus: aparentemente pequeno, mas que cresce e se torna a maior de todas as árvores. Este primeiro elemento confunde a lógica humana, que prefere ver grandeza e poder. Cabe lembrar que, os ouvintes desta parábola ficaram desconcertados, visto que se acostumaram a ouvir comparações mais suntuosas quando referente ao Reino, não uma comparação tão pequena, com um grão de mostarda. Contudo, o Reino de Deus é sutil, e na pequenez de uma semente, esconde a sua grandeza e beleza, acessível apenas àqueles que enxergam com os “olhos de Deus” as pequenas situações e momentos. Numa atitude simples, pequena, pode ali se esconder o Reino de Deus. Filosoficamente, a grosso modo, se fala em Ato e Potência: a potência é aquilo que a semente esconde em si; ato é aquilo na qual se tornará efetivamente. Mas para que toda essa “potência” se transforme em “Ato”, a semente tem que, “aparentemente”, morrer. Eis a primeira bela característica do Reino de Deus.

Segunda característica: o Reino de Deus é comparado ao fermento na massa. Uma quantia mínima de fermento é capaz de fazer a massa crescer e tomar forma. Claramente Jesus não está dando uma “aula” de culinária, pois se seguirmos os passos descritos no Evangelho, o pão sovado seria enorme. Essa imagem utilizada do fermento é para que a humanidade consiga ter acesso ao mistério do Reino. Esse fermento é quase “invisível”, mas sem ele a massa não teria as mínimas condições de crescer. Metaforicamente, o Reino de Deus comporta em si mais essa característica: a singeleza e discrição. Ele vai acontecendo de forma tão sutil, que, aparentemente, parece até mesmo inexistente, mas vai fazendo a massa crescer. Somos convidados a “fermentar” o mundo. Mas para isso é necessário descobrir o “fermento”, essencial para que o Reino de Deus cresça.

Terceira característica: o Reino de Deus é paciente. Essa característica é perceptível na parábola do joio e do trigo, na qual contraria a lógica da agricultura vigente. Inicialmente, quando ainda pequenas, o joio e o trigo são quase idênticas, sendo possível a distinção de ambas apenas numa fase mais avançada do desenvolvimento das mesmas. De forma imediata, o agricultor pensa em arrancar o joio para que não cresça mais no meio do trigo. Eis o grande perigo. Ao arrancar o joio, corre-se o risco de arrancar também o trigo. No momento adequado acontecerá a separação de ambos. Uma característica interessante é que: a origem do mal nunca é proveniente do semeador. A grande preocupação daquele que semeia não é a planta ruim, mas a planta proveniente da semente boa. Esta é a ação de Deus em nossa vida; cultiva a semente boa, mesmo que, em determinados momentos, esteja envolta de joio. Contudo, o cuidado sempre tem que ser redobrado diante do inimigo, pois “nos tornamos filhos de quem nós escutamos” (O pão nosso de cada dia, p.90); ou filhos de Deus por escutarmos a sua Palavra, ou damos ouvidos ao inimigo, distorcendo a Palavra que gera a vida.

As dificuldades e problemas sempre estarão presentes quando se trata do anúncio da Palavra de Deus. Mas mesmo assim, o Reino de Deus vai crescendo de forma singela e paciente, aparentemente inerte, mas fazendo a massa crescer e a árvore se desenvolver. Este é o grande mistério do Reino, que mesmo diante da sua grandeza infinita, se torna acessível ao homem na simplicidade de uma semente, ou na sutileza do fermento.

Que esta Palavra nos ajude a compreender o Reino que já está acontecendo em nossa história, não de forma plena e definitiva, mas nas realidades do dia a dia.

 

PARA PENSAR…

  1. Qual é a imagem que tenho do Reino de Deus?
  2. Meus ouvidos estão voltados a quem? À Palavra de Deus, ou às palavras do inimigo?
  3. Colaboro para que o Reino de Deus comece a acontecer na minha história?

 

Pe. Anderson Tomadon Sgarbossa

Vigário da Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Guaíra

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